RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA: UMA PARCERIA RELEVANTE PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO Profº Ademir Rodrigues Pereira

20-01-2014 16:19

RESUMO

O objetivo principal deste trabalho é focalizar a relação entre a escola e a família e sua importância para a formação do aluno. Para tanto, será necessário, primeiramente, definir qual a relevância da família e da escola no processo de aprendizagem, desenvolvimento e formação integral do aluno, de acordo com Antunes (2005), Carvalho (1999), Vick (2003), Szymanski (2003) e Tiba (2002). Ainda objetiva estudar, de que forma a escola pode se tornar atrativa, a ponto do aluno repassar a sua relação de afetividade e familiaridade para o professor e o ambiente escolar. Como conclusão, o estudo enfatiza que escola e família, atuando juntas, complementam a criança/aluno na sua essência, gerando mecanismos essenciais para o seu crescimento biopsicossocial.

Introdução

Conforme as proporções de Antunes (2005), Carvalho (1999), Vick (2003), Szymanski (2003) e Tiba (2002), a parceria escola-família tem grande relevância para formação biopsicossocial da criança. É uma relação, cujos “frutos” são colhidos a curto e médio prazo, assegura Szymanski (2003, p. p. 51). O suporte emocional torna-se revigorado, refletindo na construção do conhecimento e melhorando a qualidade do ensino.

A formação integral do aluno, bem como, o seu desenvolvimento cognitivo e social depende do meio onde vive. Apenas a família não é suficiente. É necessária a participação da escola e da sociedade para que a criança desenvolva-se em todos os aspectos.

Tentando entender como a escola vem se posicionando em relação ao aluno, diante das novas funções que antes eram desempenhadas pela família, como: cidadania, educação e orientação sexual, formação religiosa, politização e outros, justifica-se a elaboração deste trabalho, que tem como objetivo principal focalizar a relação escola-família e sua importância para a formação do aluno. A pesquisa ainda objetiva entender como a escola consegue atrair a criança e o adolescente, como ambiente favorável, afetivo e familiar, apesar de suas características tradicionais de espaço didático-pedagógico.

A análise e elucidação de tal parceria visarão realçar a mútua importância da escola e da família, aumentando a preocupação de ambas, no sentido de melhorar o atendimento à criança-aluno, ouvindo mais, dialogando mais, entendendo mais. Enfim, que os representantes legais da escola e da família passem a trabalhar a criança-aluno dentro do seu potencial, sabendo-se que a autoestima é a principal base para encontrar um bom lugar no mundo.

 

“Na atualidade é impossível mencionar a escola sem levar em consideração a família e seu contexto” (ANTUNES, p. 2005, p. 78). A escola deixou de ser uma instituição fechada, desmembrada da comunidade a que está inserida. Tornou-se um ambiente favorável ao bem estar de todos os personagens da família do aluno. O espaço escolar transformou-se numa continuação da casa do aluno, seu espaço de convivência, de aprendizagem e crescimento como cidadão. Escola e família dependem uma da outra em diversos aspectos. É uma relação que fomenta o sucesso do aluno, sua formação e inserção na sociedade. É uma parceria que revigora a expectativa de melhores dias, de uma vida melhor, mais digna.

A presença dos pais na escola, acompanhando o dia-a-dia dos filhos condiciona o professor a estar mais atento, aproximar mais daquele aluno, pois sabe que a família vai até a escola, participa. “A presença constante dos pais na escola exige do professor uma postura de parceria, onde cada um deve fazer a sua parte” (VICK, 2003, p. 156).

Na realidade, assegura Szymanski (2003, p. 91), tanto a instituição escola como o professor exerce uma referência fundamental na formação da personalidade e do caráter de uma criança, verificando tal comportamento, apenas na fase da adolescência ou na fase adulta.

O comportamento da criança pode denunciar as suas atitudes, afirma Carvalho (1999, p. 127). O jeito de agir da criança ou do adolescente, o comportamento arredio, acessos de rebeldia sem causa aparente e o não cumprimento de tarefas e de horários pré-determinados podem denominar o insucesso ou pedido de ajuda para se livrar de vícios ou atitudes criminosas. A atenção de pais e professores deve ser redobrada. O diálogo entre pai e filho precisa ter um tom amistoso, pois assim se consegue estabelecer um clima de cumplicidade, assegura Antunes (2005, p. 102). A escola, atuando de forma secundária, porém, não menos importante que a família deve denunciar aos pais quaisquer atitudes suspeitas, assim como, qualquer mudança de comportamento repentino. Enfim, professores, coordenadores pedagógicos, gestor (a) e demais servidores desempenham um papel fundamental no processo de acompanhamento e crescimento pessoal da criança, prestando atenção a todos os detalhes que a cerca.

A conversa entre professores e pais deve acontecer sempre que observado alguma atitude estranha na relação do aluno com os demais colegas e com ele, professor. Reuniões, visita à casa do aluno ou ao trabalho dos pais. Através de uma conversa aberta e sem omissão de fatos ou detalhes, pais e professores podem ajudar a criança ou o adolescente a seguir uma vida normal, a vencer as dificuldades da idade. Dificuldades essas, que para pais e professores não parecem acintosas, no entanto, para o aluno pode significar o início de vícios e descaminhos. “As crianças precisam ser protegidas e cobradas de acordo com suas necessidades e capacidades” (TIBA, 2002, p.39).

O comportamento arredio ou desligado em sala de aula pode ser percebido em casa, através dos pais, sempre que o filho apresentar atitudes estranhas, fora da normalidade diária. Mesmo assim, alguns pais demoram a perceber mudanças comportamentais no seu filho. Muitas vezes até acham que tais atitudes possam parecer normais devido à idade. Outros pais nunca encontram tempo para ouvir o seu filho. Estão sempre ocupados com o trabalho e com a vida social, que não conseguem perceber mudanças de comportamento, conhecer os novos amigos do filho, participar da sua vida esportiva. “A escola percebe facilidades, dificuldades e outras facetas na criança que em casa não eram observadas, muito menos avaliadas” (TIBA, 2002, p. 182)

Como parte importante na educação das crianças, os pais podem funcionar como fieis parceiros da escola, comunicando ao professor o modo de agir do seu filho em casa, a relação pai/filho, assim como, as alterações percebidas na sua maneira normal de agir. Tais informações podem levar o professor a entender melhor o aluno ou, a concretizar dúvidas a respeito de uma percepção de informações a respeito daquele aluno. Enfim, toda e qualquer informação fornecida de pai para professor ou vice-versa, pode trazer inúmeros benefícios na vida escolar e social da criança ou do adolescente.

A educação de uma criança não diz respeito somente a essa ou aquela pessoa. Todos os membros da família, todos os servidores da escola, vizinhos, parentes, entidades sociais, enfim, todos que com ela convivem direta ou indiretamente. Deve-se fazer valer o diálogo, a comunicação entre todos para que a criança não se desvirtue, não tenha tempo de ser convencida do contrário, arrastada pelas drogas, levada à prostituição, condicionada ao crime (ANTUNES, 2005, p. 212).

A presença dos pais na escola, periodicamente, causa no filho uma sensação de conforto e segurança. A criança se sente protegida, sabe que os pais se preocupam com ela. Que a presença dos pais na escola acontece dentro de uma normalidade. Um hábito dos pais. Em nenhum momento aparenta uma visita convocada por indisciplina ou mau comportamento em sala de aula por parte dela. “Quando a criança vê o seu pai ou a sua mãe na escola, seja numa festinha escolar ou num dia qualquer da semana, ela vive um prazer incomparável. Sabe diferenciar aquele momento de qualquer outro na sua vida. Se emociona” (TIBA, 2002, p. 91).

A segurança da criança provém da família. É um berço cuja fruição de ternura, de atenção e afetividade constrói o seu ego; delineia o tamanho da sua bondade; estabelece o teor de sua formação, do seu caráter. “[...] tanto a criança como o adolescente precisam sentir essa segurança, viver os fruídos oriundos dessa base social, pertencer a uma família” (SZYMANSKI, 2002, p. 197).

A escola exerce um papel, extremamente importante na vida da criança, afirma Carvalho (1999, p. 176). É a maior referência depois da família. Apresenta-se como a detentora de mecanismos que levam a criança a ler e a escrever. É onde se pode estudar, desejo de toda criança que começa a falar. Tem, entre outras atribuições: ensinar a ler, a escrever, a desenvolver cálculos matemáticos, conhecer o corpo humano e seu funcionamento, conhecer a história pregressa da humanidade e as mudanças na paisagem, os relevos e o clima na natureza. Tais atribuições, ao longo da história constituíram a essência do aprendizado entre o final do século IX e metade do século XX, conforme assegura Antunes (2005, p. 67). Era a escola, voltada para o crescimento do indivíduo dentro de uma limitação. Ensino determinado em doses para cada um, sem levar em consideração a reação, ponto de vistas ou vontade do aluno. Toda e qualquer outra informação inerente à vida humana ficava a cargo da família, que tinha na mãe, figura doméstica, cheia de doutrinas, medos e tabus, a pessoa com tempo disponível e obrigada a educá-los, sem a preocupação de inseri-los, como indivíduos socialmente independentes, na sociedade contemporânea. 

Entende-se que a escola contemporânea vem desempenhando papéis nada didáticos, totalmente voltados para uma nova sociedade, bastante diferente dos séculos passados. A escola se transformou numa filial da família, no que se refere a algumas funções que eram da família, e que hoje fazem parte do currículo escolar. Caso, por exemplo, da formação religiosa, relacionamento interpessoal, educação e orientação sexual, ética, cidadania, politização, cultura, preservação do meio ambiente, entre outros. Isso fez com que a escola abandonasse o seu foco, os seus objetivos cruciais na formação da criança/aluno, enquanto que a família desfigurou-se completamente, ficou sem uma função definida na educação dos filhos. Sabe-se que a escola deve ser um ambiente sociável, prazeroso, que não viva somente de aprendizagem. Essa nova escola atua como um veículo conscientizador a respeito dos problemas sociais: formação para o mercado de trabalho, preconceitos étnico-raciais, destruição do meio ambiente, longevidade humana, etc. “Faz parte do instinto de perpetuação da espécie os pais cuidarem dos filhos, mas é a educação que os qualificam como seres civilizados” (TIBA, 2002, p. 67).

 A criança, quando chega à escola, traz consigo um aprendizado internalizado, capaz de conduzi-la socialmente em todos os âmbitos da sua comunidade. É o aprendizado intrínseco, elaborado no dia-a-dia da família, na rua e bairro onde mora. Ao chegar à escola ela apresenta a sua vida até ali, pautada pela lógica familiar. A partir dali começa uma nova etapa, novos aprendizados, dúvidas, espírito de competição, enfim, desenvolve-se biopsicossocialmente. Cabe à escola ser receptiva. Um espaço agradável e de convivência jovem, moderno e bastante atual. O respeito ao semelhante, a importância da amizade e o mal que as drogas provocam devem ser temas trabalhados diariamente. “A relação família-escola é uma parceria relevante para a formação do aluno em todos os aspectos, sejam eles sociais, econômicos, religiosos, políticos, ...” (TIBA, 2002, p. 167).

Entende-se que a presença da família na escola favorece tal estrutura. Ajuda no processo de modificação e transformação do indivíduo, pois, juntas, escola e família, atuando num mesmo espaço, se complementam perante o filho/aluno. Segundo Carvalho (1999, p. 97), a educação consegue gerar mecanismos essenciais para o crescimento biopsicossocial de um indivíduo, principalmente na faixa etária relativa aos primeiros anos do Ensino Fundamental.

Imagina-se que a proposta escola-família se paute no ouvir, no falar, no aprender a lidar com as emoções, dificuldades e incertezas. “Se a parceria família e escola for formada desde os primeiros passos da criança, todos terão muito a lucrar. A criança que estiver bem vai melhorar e aquela que tiver problemas receberá a ajuda tanto da escola quanto dos pais para superá-los” (TIBA, 2002, p. 183).

Os pais devem acompanhar o “Para Casa” diariamente. Colaborar, marcando horários diários para que a criança crie hábitos, porém, ajudando sem fazer pelo filho. É interessante que os pais se ofereçam para ajuda, sem esperar que o filho a peça. “Caso a mãe deseje ensinar, deve fazê-lo em outra folha, e não na da escola. Nessa folha avulsa, eles podem escrever, pintar e desenhar. A folha da escola é responsabilidade da criança” (TIBA, 2002, 191).

 Quando a escola, o pai e a mãe se entendem, participam de uma relação harmoniosa, comungando de valores semelhantes, a criança aprende sem grandes conflitos e não pensa em jogar a escola contra os pais ou os pais contra a escola. Quando há conflito, os adolescentes tendem a tirar vantagens pessoais e as crianças a acompanhar quem mais lhes agradar. Assim, quando os pais não concordam com a escola é com ela que devem resolver as discordâncias. Desse modo a criança não se apoiará nos pais para se insurgir contra a escola. “Quando o filho se queixa de algum professor ou de alguma injustiça praticada pela escola, antes de acreditar piamente no que ele diz é melhor que os pais tomem conhecimento de outras informações sobre o mesmo fato” (TIBA, 2002, p.183).

 

Conclusão

 

O espaço escolar é e deve continuar sendo o melhor ambiente para a juventude. Um local propício e suficientemente saudável para se desenvolver socialmente, compreender melhor o mundo e criar laços. Cabe à família visitar mais a escola, participar das comemorações e festas, colaborar com o professor na indisciplina do (a) filho (a) e acompanhar o material escolar dele (a) diariamente. Pai e mãe devem participar das competições esportivas deles, seja na escola ou na vida social, fora da escola.

Se escola e família caminharem juntas em prol da educação do (a) filho (a), com parceria e sem acusações ou busca de culpados, o papel desempenhado pela escola, aliado a presença física e imponente dos pais serão benéficos ao aluno, à sua formação e inserção na sociedade, como pessoa de bem, conhecedora dos seus direitos e deveres.

Uma criança que tem ao seu redor pessoas alegres, educadas, que se vestem decentemente, que lhe dão atenção, respondem as suas perguntas com clareza, que usam o nome de Deus como prioridade, tem 100% de chance de se tornar uma cidadã convicta dos seus direitos e deveres, politizada e ciente do amor e respeito a Deus e ao próximo (CARVALHO, 1999, p. 2).

Referências

ANTUNES, P. G. Família na escola, construindo o futuro da criança: São Paulo: Pesdora, 2005.

CARVALHO, M. E. P. Modo de educação, gênero e relações escola-família. Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, 1999.

VICK, O. T. Importância da relação da família com a escola. Campinas: Eldorado, 2003.

SZYMANSKI, H. A relação escola/família: desafios e perspectivas. Brasília, DF, Plano Editora, 2003.

TIBA, I. Quem ama, educa. 11ª ed. São Paulo: Gente, 2002.